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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Por que a civilização não há de entrar em colapso

ALBERT EINSTEIN*

O otimista afirma a vida, o pessimista a nega. O pessimista, com toda a sua negação, agarra-se, como uma regra geral, ao doce hábito de viver. Cada homem, em um momento ou outro, acaba se fazendo a imortal pergunta de Hamlet: "Ser ou não ser?" E, se acaba. Decidindo que ser é, de maneira geral, é preferível a não ser, é um otimista, ainda que goste de citar Schopenhauer ou o adágio bíblico de que tudo não passa de vaidade.

Eu sou um otimista.

Afirmo a vida porque, seja qual tenha sido o destino dos sóis e dos universos em dissolução, existe uma coisa que chamamos progresso e evolução no ciclo das espécies humanas, por mais breve que seja sua existência, medida em termos astronômicos.

Sou um otimista apesar da Depressão, da Fome, da Insatisfação e do Renascimento do Militarismo, os Quatro Cavaleiros do Novo Apocalipse que cavalgam na sangrenta trilha da Guerra Mundial.

Sou um otimista apesar da supressão em âmbito mundial, dos direitos humanos, que se seguiu à ambiciosa tentativa de tornar o mundo seguro para a democracia. O que caracteriza época em que vivemos é a batalha do indivíduo para se afirmar. Homem nenhum consegue encontrar-se com a sua própria alma se não atinge o equilíbrio entre o mesmo e a sociedade que o cerca.

Quando meditamos sobre a nossa vida e nossas esperanças temos, quase invariavelmente, de encarar a descoberta de que quase todas as nossas realizações e empreendimentos estão intimamente entrelaçados com a existência dos outros. Notamos até que ponto nos parecemos com outros animais que vivem em comunidades coletivas. Os alimentos que comemos são preparados e trazidos à nossa mesa por nossos companheiros. As próprias roupas que usamos são tecidas e costuradas por outros. Mãos alheias constroem os abrigos a que damos o nome de lar ou de local de trabalho.

Nossos conhecimentos e crenças, em sua maior parte, são uma herança. São-nos quase que inteiramente transmitidas pelos outros. Outros vêm criando, há muito tempo, os meios pelos quais a compreensão chega a nossos cérebros. Sem a fala, nossos cofres mentais ficariam totalmente vazios! Sem ela, o nosso horizonte intelectual não iria além do de um elefante ou de um macaco. A linguagem cria a irmandade dos homens. É esse dom, a capacidade de transmitir para os outros idéias e emoções complexas, que diferencia o bípede humano de seus parentes zoológicos.

Inteiramente abandonado a si próprio, o homem ‚ mais indefeso do que os animais. Tente imaginar um bebê abandonado para crescer absolutamente sozinho, desde que nasce. O primitivismo abismal dessa criatura escapa à nossa imaginação.

O que significa tudo isso?

Isso demonstra a nossa dependência de nossos semelhantes.

Não importa a grandeza ou a distinção dos dons ou potencialidades de um homem, ele é distinto ou grandioso apenas em referência a seu grupo. Um indivíduo não é significativo enquanto indivíduo e sim como membro de uma família humana. A sociedade é a força que dirige os seus fins materiais e espirituais do nascimento à morte.

Isso nos dá uma medida pela qual podemos avaliar os méritos de cada homem. Seu valor depende primariamente do grau em que as suas emoções, pensamentos e ações se dirigem para enriquecer a vida de seus semelhantes. Bem e mal não são termos absolutos: aplicados ao valor ou ao caráter de um homem, dependem de sua posição ou de sua atitude no relacionamento com o grupo. É como se os atributos sociais de um homem fossem os únicos fatores sobre os quais repousam a sua posição relativa na escala da humanidade.

No entanto, essa conclusão é errônea.

Ela não é coerente com a história da humanidade. Pois se o indivíduo depende da sociedade, a sociedade, por sua vez‚ é nutrida pelas riquezas de cada alma individual. É evidente que todos os bens materiais, espirituais e morais que recebemos da sociedade que nos cerca vieram a ela a partir de forças individuais, sempre acumulando, sempre crescendo, ao longo de inúmeras gerações. Toda civilização e toda cultura nasce das raízes do individualismo criativo.

Não foi a sociedade, mas um indivíduo quem primeiro tirou fogo de uma pedra. Alguns indivíduos foram os responsáveis pela idéia de retirar alimentos do solo, plantando-os. Outros indivíduos foram os primeiros a conceber a máquina a vapor ou o filamento da lâmpada que nos ilumina.

Só o indivíduo pode pensar e, pensando, criar novos valores para o mundo. Só o indivíduo pode estabelecer novos padrões morais que mostram o caminho para as gerações vindouras. Sem personalidades decisivas, pensando e criando de forma independente o progresso humano é inconcebível.

A saúde da sociedade depende menos da integridade de cada indivíduo do que dos laços sociais que unem o indivíduo a seu grupo. Mas o indivíduo não pode crescer sem o apoio de uma comunidade cooperativa. As culturas greco-européia e americana floresceram a partir da semente da realização individual. O florescimento cultural da Renascença, em especial, tirou a sua força quase inteiramente do relativo isolamento dos indivíduos.

O que é que isso significa para nós?

Vamos dar uma olhada no tempo em que vivemos. Qual é a do indivíduo?

A população das áreas onde o nosso tipo especial de civilização prevalece, cresceu enormemente. A população da Europa, sozinha, triplicou em um século. Na América, a taxa de crescimento foi ainda mais prodigiosas. Mas o número de lideres independentes, de criadores e pensadores decresceu na proporção inversa. Há poucos indivíduos, hoje, que se ergam acima da multidão. Os poucos que se destacam devem essa distinção principalmente a uma realização produtiva. No mundo que nos cerca, a organização tomou o lugar da liderança individual. Isso é particularmente verdade no domínio das realizações técnicas. É verdade, também, num grau espantoso, no domínio das ciências. A falta de grandes individualidades no domínio das artes mostra-se com dolorosa clareza. A pintura e a música, em especial, degeneraram. A política, também está falida. Não só não existem mais grandes líderes políticos, como também o cidadão individual sofreu um declínio quase universal em termos de confiabilidade e senso de justiça. E, no entanto, a confiabilidade espiritual e um agudo senso de justiça por parte dos indivíduos, são os dois pilares sobre os quais repousa a estrutura democrática. Sem eles, os sistemas parlamentares não funcionam. Porque o indivíduo perdeu essas duas virtudes cívicas primárias, a democracia e seus sistemas parlamentares estão funcionando mal. Porque o indivíduo perdeu essas duas virtudes cívicas primárias, a democracia e seus parlamentos estão vacilantes em muitos países. Por toda a parte erguem-se as ditaduras e elas são toleradas porque o senso de dignidade e de direitos individuais já não está mais vivo de forma suficientemente vibrante.

Às massas, por toda a parte, falta a capacidade de julgamento político independente. Pode-se levar o povo de qualquer país, no espaço de duas semanas, a um tal graus de ódio e histeria que seus membros individuais estão prontos para matar ou ser mortos, em armadilhas militares, por qualquer motivo, sem que se leve em conta o seu mérito especial. A propaganda cria o serviço militar compulsório ou a servidão militar compulsória. Na minha opinião, o sintoma mais vergonhoso da falta de dignidade pessoal de que a nosso mundo civilizado sofre hoje é a forma como ele se submete às pressões do serviço militar compulsório de qualquer tipo. Em vista desses fenômenos perturbadores não faltam profetas que proclamam o colapso iminente da civilização ocidental. Não me alinho com esses pessimistas. Tudo indica o contrário. Acredito num futuro melhor e deixem que resuma rapidamente as razões que tenho para estar convencido disso.

A humanidade está sofrendo não porque tenha deixado de progredir, mas porque progrediu depressa demais.

Atribuo as manifestações atuais de desintegração ao fato de que o crescimento da indústria e do maquinário tornou mais aguda a batalha pela existência a um ponto tal que ela se torna um obstáculo ao livre desenvolvimento do indivíduo. Aos líderes em potencial faz falta o tempo livre de que precisam para crescer. O desenvolvimento das máquinas deveria ter produzido o efeito oposto. Deveria ter diminuído a exigência de que o indivíduo trabalhe mais para atender à demanda da comunidade. Mas o mundo não se adaptou a essas mudanças como resultado, o desemprego e a inquietação social espreitam por toda parte, num mundo instável. A humanidade está começando a se dar com de que uma de suas tarefas mais urgentes é a reorganização do trabalho.

Assim que tivermos realizado essa redistribuição, poderemos reajustar as nossas vidas garantindo a cada indivíduo segurança material e lazer. Reavivadas por um novo senso de segurança e de liberdade, as energias que agora estão sendo reprimidas serão liberadas nas almas dos indivíduos. Seremos uma vez mais capazes de desenvolver grandes personalidades, capazes de enriquecer a nossa vida cultural. Extraindo uma força nova das individualidades, a humanidade há de readquirir o seu equilíbrio espiritual e sua saúde espiritual. A própria intensidade de nossos distúrbios indica a determinação com que tanto indivíduo quanto o organismo social querem se ver livres desse sofrimento.

Os historiadores futuros hão de compreender a crise que se tem apossado do mundo de hoje como um sintoma de uma doença social provocada apenas pelo ritmo rápido demais de nossa civilização. A humanidade, curando-se dessa doença infantil, há de conseguir ir para a frente e para cima na consecução de seus objetivos.

*O físico alemão Albert Einstein, formulador da teoria da relatividade, escreveu este artigo em 1933 para a Liberty Magazine/HP Singer Features, três anos depois de sua transferência para os Estados Unidos.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Nosso racismo é um crime perfeito

"O antropólogo Kabengele Munanga fala sobre o mito da democracia racial brasileira, a polêmica com Demétrio Magnoli e o papel da mídia e da educação no combate ao preconceito no país"

"... Revista Fórum – como o senhor vê o tratamento dado pela mídia à questão racial?
Kabengele - A imprensa faz parte da sociedade. Acho que esse discurso do mito da democracia racial é um discurso também que é absorvido por alguns membros da imprensa. Acho que há uma certa tendência na imprensa pelo fato de ser contra as políticas de ação afirmativa, sendo que também não são muito favoráveis a essa questão da obrigatoriedade do ensino da história do negro na escola.

Houve, no mês passado, a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Silêncio completo da imprensa brasileira. Não houve matérias sobre isso. Os grandes jornais da imprensa escrita não pautaram isso. O silêncio faz parte do dispositivo do racismo brasileiro. Como disse Elie Wiesel, o carrasco mata sempre duas vezes. A segunda mata pelo silêncio. O silêncio é uma maneira de você matar a consciência de um povo. Porque se falar sobre isso abertamente, as pessoas vão buscar saber, se conscientizar, mas se ficar no silêncio a coisa morre por aí. Então acho que o silêncio da imprensa, no meu ponto de vista, passa por essa estratégia, é o não-dito.

Acabei de passar por uma experiência interessante. Saí da Conferência Nacional e fui para Barcelona, convidado por um grupo de brasileiros que pratica capoeira. Claro, receberam recursos do Ministério das Relações Exteriores, que pagou minha passagem e a estadia. Era uma reunião pequena de capoeiristas e fiz uma conferência sobre a cultura negra no Brasil. Saiu no El Pais, que é o jornal mais importante da Espanha, noticiou isso, uma coisa pequena. Uma conferência nacional deste tamanho aqui não se fala. É um contrassenso. O silêncio da imprensa não é um silêncio neutro, é um silêncio que indica uma certa orientação da questão racial. Tem que não dizer muita coisa e ficar calado. Amanhã não se fala mais, acabou."

Leia na íntegra:
Quem tem medo do Lula?: Nosso racismo é um crime perfeito

domingo, 14 de novembro de 2010


Sakineh Ashtiani

O caso Sakineh Ashtiani, chama-nos a atenção para outras mulheres iranianas que têm lutado, cada uma à seu modo, contra a violência contra a mulher naquele país. Uma destas mulheres é a juíza iraniana Shirin Ebadi, defensora de Direitos Humanos e ganhadora do prêmio Nobel da Paz em 2003, outra mulher é Marjane Satrapi, autora de Histórias em Quadrinhos que teve seu álbum autobiográfico, Persépolis, transformado em um bonito e comovente filme. Marjane é uma mulher corajosa, em entrevista à revista Time, em 2003declarou: “O que eu gostaria seria de ver os EUA dizendo: - "Não damos bola pra vocês (iranianos), nós somos o Leão da selva, e nós estamos devorando vocês por que nós somos mais poderosos" - isto seria legal, mas toda esta falação sobre bondade e libertação e – nós amamos vocês - me dá enjôo!”
Em seu filme, Persépolis, é possível perceber sua coragem para dizer a verdade. Assistam! Vocês vão gostar.


Sakineh Ashtiani
No site do estadão tem uma boa matéria explicando o caso Sakineh desde de maio de 2006 até novembro de 2010. Vale a pena conferir. Link abaixo.



Trailler: Persépolis



Fontes:

http://www.estadao.com.br/especiais/caso-sakineh-ashtiani,114740.htm


http://www.duplipensar.net/materias/2003-08-satrapi.html

http://filmow.com/filme/1374/persepolis/

sábado, 6 de novembro de 2010

O Jornal da Cultura de ontem (05/11/2010) fez uma bonita homenagem aos nordestinos, ao som de Lenine (um dos tantos nordestinos brilhantes deste país) em protesto contra manifestações preconceituosas como estas: http://www.youtube.com/watch?v=tCORsD-hx0w&feature=player_embedded

sexta-feira, 5 de novembro de 2010



        "Invictus"

       Autor: William E Henley
    Tradutor: André C S Masini


Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por minha alma insubjugável agradeço.
Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.
Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.
                Fonte:http://tinyurl.com/ygyp57z

Conheci este poema por meio do filme Invictus": http://tinyurl.com/yb8syp7



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