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sexta-feira, 17 de junho de 2022

Rezar e obedecer - Keep sweet: Pray and Obey

 
Imagem de céu azul claro com nuvens em dia de sol
Acabei de assistir a série documental "Rezar e obedecer" da Netflix sobre a seita Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e como o líder deles, Warren Jeffs, contava com a cumplicidade de homens e mulheres para estuprar crianças, sendo que todas elas, em algum grau, eram parentes deles. Assistir o documentário me provocou um literal e tremendo embrulho no estômago. Me lembrei de muitos casos semelhantes que têm sido revelados pelo mundo afora. Há pouco tempo assisti
 ‘The Vow’, da HBO, que mergulha nos segredos do grupo NXIVM, que atraiu as elites dos EUA e atrizes famosas como Allison Mack, da série de TV ’Smallville’, a qual podem conferir a resenha no link acima do El País. Lembrei então de uma lista de filmes semelhantes que assisti ultimamente: Bikram: Yogi, Guru, Predador (Netflix), Wild Wild Country (Netflix) num flash me recordei dos messias Jim Jones de Jonestown e Charles Manson, homens que, por meio da doutrinação, levaram pessoas à cometerem assassinatos e suicídios coletivos. Essa chuva de pensamentos me trouxe recordações dos vinte anos que fiz parte de uma igreja que, assim como essas aqui citadas, pregava ser a única igreja verdadeira, a única por meio da qual as pessoas iriam para o céu, a única que oferecia salvação e o quanto minha salvação dependia da minha obediência à liderança e o quanto minha obediência era vigiada constantemente por meio de conversas amigáveis que patrulhavam meus pensamentos e, ao menor sinal de questionamento, me exortavam ao arrependimento para que eu não me permitisse ser um instrumento de satanás que, por meio da dúvida, causaria divisão na igreja. Tudo devidamente fundamentado na Palavra de Deus e eu morria de medo de ir para o inferno porque eu sempre fui muito questionadora e, para me invalidarem, sempre usaram minha vida pregressa como prova de que eu não devia confiar em mim. Afinal, eu era apenas uma mulher imoral "mãe solteira" de uma criança negra bastarda que, pela Graça de Deus, tinha agora o privilégio de fazer parte da raça escolhida, o povo de Deus e deveria, por meio da minha gratidão, oferecer minha lealdade assumindo a responsabilidades por outras pessoas, fossem elas "fracas na fé", a quem eu deveria inspirar ou "pessoas perdidas" a quem eu deveria salvar, ainda que com prejuízo próprio, até mesmo financeiro e quando me sentia tentada a questionar o sistema eu era aconselhada a orar para mudar meu "coração crítico" e obedecer sem questionar porque aquela era a vontade de Deus. Coisas que acreditei e fiz intensamente e de todo coração por quase três décadas. Achei bacana que ao final de cada episódio há indicação de um site para que, pessoas que já passaram por situações semelhantes possam procurar ajuda ou se oferecer como voluntários, mas só encontrei opções de ajuda para questões bem específicas, tais como abuso sexual ou tentativa de suicídio e para voluntários que sejam advogados ou psicólogos. Fiquei frustrada por não encontrar um grupo de apoio para ex-membros de seitas ou igrejas fundamentalistas que "apenas" sofreram violência psicológica e consentiram ou tomaram muitas decisões ruins que impactaram suas vidas para sempre. Caso você conheça algum, deixe nos comentários. Grata.